O terapeuta sexual João Borzino também fala sobre os transtornos transtornos psíquicos menstruais e o aumento da libido na menstruação
A menstruação é um processo natural que faz parte da vida de todas as mulheres durante vários anos, desde a adolescência até à menopausa. Apesar disso, o tema é cercado de tabus. Um deles é sobre ter relações sexuais durante o período mestrual.
Inclusive, muitas mulheres sentem mais desejo sexual na menstruação. “A porcentagem de mulheres que experimentam aumento da libido durante o período menstrual pode variar dependendo dos estudos e das populações pesquisadas, mas, em média, cerca de 20% a 25% das mulheres relatam sentir um aumento no desejo sexual durante a menstruação. Isso não significa que estas vão procurar mais atividade sexual, pois podem se sentir inibidas pelo sangramento”, explica o médico e terapeuta sexual João Borzino.
Ele citou os motivos que podem estar relacionados a este aumento de libido no período menstrual;
- Variações Hormonais
- Durante a menstruação, os níveis de hormônios, como o estrogênio e a progesterona, são mais baixos. Para algumas pessoas, essa diminuição pode aumentar a libido, uma vez que o corpo está em um estado mais relaxado, e alguns hormônios que inibem o desejo sexual estão em níveis mais baixos.
- No entanto, algumas mulheres podem experimentar um aumento nos níveis de testosterona ao final do ciclo menstrual, o que também pode elevar o desejo sexual.
- Aumento da Sensibilidade
- Durante a menstruação, o fluxo sanguíneo para a região pélvica é maior, o que pode aumentar a sensibilidade e, para algumas pessoas, tornar a estimulação mais prazerosa.
- Essa sensibilidade extra pode facilitar o orgasmo e tornar a experiência sexual mais intensa.
- Alívio das Cólicas Menstruais “ Santo Remédio”
- Orgasmos durante a menstruação podem ajudar a aliviar as cólicas e outras dores menstruais. Isso ocorre porque o orgasmo libera endorfinas e oxitocina, que são hormônios naturais de relaxamento e bem-estar. Lembrando aqui que logo após o orgasmo, muitas mulheres referem cólicas, porém há grande alivio do quadro como um todo.
- Essas substâncias têm propriedades analgésicas e podem contribuir para reduzir a sensação de dor.
- Benefícios Emocionais e de Conexão
- Algumas pessoas relatam que a intimidade sexual durante a menstruação ajuda a fortalecer o vínculo emocional com o parceiro, além de proporcionar uma sensação de conforto e segurança.
- Para quem se sente mais sensível emocionalmente durante o período menstrual, o contato íntimo pode ser uma forma de receber apoio emocional.
- Liberdade e Conforto
- Para muitas pessoas, o desejo sexual durante a menstruação está ligado ao alívio de não precisar se preocupar com a gravidez (desde que a contracepção seja considerada). Essa tranquilidade pode favorecer um relaxamento maior e um desejo sexual mais intenso.
De acordo com João Borzino, se você ou seu parceiro estiverem confortáveis, não há razão para evitar a atividade sexual durante a menstruação. O médico deu algumas dicas para aproveitar a experiência:
- Comunicação: Conversar com o parceiro sobre o que vocês sentem a respeito e sobre as preferências e limites ajuda a criar um ambiente de conforto e confiança.
- Preparação: Usar toalhas escuras na cama ou optar pelo banho como local da atividade sexual pode ajudar a minimizar qualquer desconforto relacionado ao fluxo menstrual.
- Lubrificação Natural: Durante a menstruação, o corpo já está naturalmente lubrificado, o que pode aumentar o prazer e diminuir a necessidade de lubrificantes adicionais.
- Posições Confortáveis: Algumas posições, como a posição de colher, podem ser mais confortáveis e menos intensas durante o período menstrual.
- Higiene e Proteção: Lembre-se de usar preservativos para evitar o risco de infecções, pois o sangue menstrual pode aumentar a possibilidade de transmissão de infecções. O terapeuta sexual afirma que o desejo sexual durante a menstruação é perfeitamente normal e pode até mesmo ser intensificado devido a fatores hormonais e sensoriais. Para ele, o importante é que você e seu parceiro estejam confortáveis e abertos para explorar novas maneiras de se conectarem.
No entanto ter relações sexuais durante a menstruação pode aumentar o risco de transmissão de infecções sexualmente transmissíveis (ISTs) devido a algumas razões específicas. Aqui estão os principais pontos a considerar:
1. Maior Risco de Transmissão
- Durante a menstruação, o colo do útero fica ligeiramente mais aberto para permitir a passagem do fluxo menstrual. Isso pode facilitar a entrada de bactérias e vírus, aumentando o risco de infecções.
- O sangue menstrual pode transportar patógenos, como o HIV e a hepatite, que podem ser transmitidos para o parceiro se não forem tomados cuidados apropriados.
- Algumas ISTs, como o HIV e o vírus da hepatite, são transmitidas mais facilmente por meio de fluidos corporais. O sangue menstrual aumenta a quantidade de fluidos expostos, o que pode elevar o risco de transmissão para ambas as partes.
2. Vulnerabilidade ao Desequilíbrio da Flora Vaginal
- Durante a menstruação, o pH vaginal tende a ficar mais alto (menos ácido), o que pode aumentar a chance de proliferação de bactérias e, consequentemente, a chance de contrair infecções bacterianas, como a vaginose bacteriana.
- A presença de sangue também pode alterar o ambiente vaginal, facilitando o desenvolvimento de infecções por fungos e outras infecções bacterianas.
3. Infecções que Podem Ser Transmitidas com Maior Facilidade
Algumas ISTs que podem ser transmitidas durante o sexo, independentemente do ciclo menstrual, incluem:
- HIV: O sangue menstrual aumenta a exposição ao HIV, que é transmitido por fluidos corporais.
- Hepatite B e C: Vírus que também podem ser transmitidos pelo contato com sangue infectado.
- Gonorreia e Clamídia: Essas bactérias podem se proliferar com mais facilidade quando o colo do útero está mais aberto, como ocorre durante a menstruação.
- Herpes Genital: Esse vírus pode ser transmitido pelo contato direto e aumenta o risco de transmissão, independentemente do ciclo, mas o aumento da circulação sanguínea na região pode favorecer a infecção.
4. Reduzindo os Riscos
Se você decidir ter relações sexuais durante a menstruação, algumas medidas podem ajudar a reduzir o risco de transmissão de ISTs e de infecções em geral:
- Use preservativo: Isso é essencial para proteger contra ISTs e para reduzir a exposição aos fluidos corporais.
- Mantenha a higiene: Tomar banho antes e depois do sexo pode ajudar a manter a área genital limpa e reduzir a presença de bactérias.
- Evite o uso de dispositivos intrauterinos: Alguns especialistas recomendam cautela com o uso de dispositivos que alteram o colo do útero durante o período menstrual, especialmente em relação ao sexo, para diminuir o risco de infecções.
5. Consulte um Profissional de Saúde
Se tiver dúvidas ou preocupações específicas, especialmente se for portador de uma IST, é sempre recomendável conversar com um profissional de saúde sobre os riscos e sobre medidas adicionais para garantir a segurança durante as relações sexuais.
Borzino pontua que com o uso de métodos de barreira, como o preservativo, é possível aproveitar a intimidade durante a menstruação de forma mais segura, minimizando os riscos para ambos os parceiros.
Transtornos psíquicos menstruais
O médico também falou sobre os transtornos psíquicos menstruais. De acordo com ele, referem-se a uma série de alterações emocionais e comportamentais que podem ocorrer antes ou durante o ciclo menstrual.
“Essas alterações estão geralmente associadas à flutuação hormonal e podem variar em intensidade, afetando o bem-estar psicológico e a qualidade de vida”. João Borzino listou alguns dos transtornos mais comuns:
1. Síndrome Pré-Menstrual (SPM)
A SPM é uma condição comum que afeta cerca de 75% das mulheres em idade reprodutiva. Os sintomas podem aparecer na fase lútea do ciclo menstrual, que ocorre cerca de uma a duas semanas antes da menstruação, e incluem:
- Sintomas emocionais: Irritabilidade, ansiedade, tristeza, mudanças de humor, cansaço e dificuldade de concentração.
- Sintomas físicos: Inchaço, sensibilidade nos seios, dores de cabeça e aumento do apetite.
Os sintomas tendem a desaparecer logo após o início da menstruação, mas podem interferir no dia a dia dependendo da gravidade.
2. Transtorno Disfórico Pré-Menstrual (TDPM)
O TDPM é uma forma mais grave da SPM e afeta entre 3 a 8% das mulheres em idade reprodutiva. Ele inclui sintomas emocionais mais intensos e incapacita alguns aspectos da vida diária.
- Sintomas emocionais: Depressão intensa, raiva, irritabilidade, sentimentos de desesperança e, em casos mais graves, pensamentos suicidas.
- Sintomas físicos: Semelhantes aos da SPM, mas frequentemente mais severos.
O TDPM é classificado como um transtorno depressivo no DSM-5 ( Manual Psiquiátrico Internacional de Diagnóstico), e geralmente requer tratamento, que pode incluir terapia, mudanças de estilo de vida e, em alguns casos, medicação.
3. Depressão Menstrual
Algumas mulheres experimentam uma intensificação dos sintomas de depressão durante a fase lútea do ciclo menstrual. Embora essa condição ainda não seja totalmente compreendida, acredita-se que a queda nos níveis de serotonina e o aumento nos níveis de progesterona possam contribuir para esses sintomas.
- Sintomas: Sentimentos de tristeza profunda, desesperança, fadiga extrema e, em alguns casos, desmotivação e apatia.
A depressão menstrual pode ser uma característica do TDPM ou de outras condições, como a depressão crônica ou o transtorno bipolar.
4. Ansiedade Menstrual
Algumas mulheres sentem sintomas de ansiedade severa durante o ciclo menstrual. Os sintomas incluem nervosismo, inquietação e, em casos mais graves, ataques de pânico.
- Sintomas emocionais: Preocupações excessivas, tensão muscular, insônia e sensação de estar “no limite.”
- Sintomas físicos: Taquicardia, falta de ar e sudorese.
5. Disforia Menstrual Relacionada ao Gênero ( disforia é um termo médico que pode se referir a diferentes estados de mal-estar, como:
- Uma mudança repentina do estado de ânimo, que pode causar sentimentos de tristeza, pesar, angústia, melancolia e pessimismo
- Uma instabilidade do humor, acompanhada de mal-estar, inquietude e reações coléricas
- Uma inadequação da pessoa em relação ao seu sexo, que pode levar a depressão e outros transtornos psicossociais)
Esta condição, que frequentemente afeta pessoas trans e não-binárias, refere-se ao aumento dos sintomas de disforia de gênero (disforia de gênero é um tipo de disforia que ocorre quando uma pessoa não se sente confortável com as características de seu corpo), durante o ciclo menstrual. O desconforto com as características corporais associadas ao sexo biológico, combinado com sintomas menstruais, pode intensificar sentimentos de desconexão com o próprio corpo ( estamos falando daqueles que são biologicamente mulheres porém se sentem homens, pois é um paradigma).
6. Transtorno Bipolar e o Ciclo Menstrual
Mulheres com transtorno bipolar podem perceber um agravamento de seus sintomas maníacos ou depressivos no período pré-menstrual ( irritabilidade, agressividade, tristeza, alucinações e delírios). A fase lútea ( logo após a ovulação), pode intensificar episódios de depressão e tornar o manejo do transtorno mais difícil durante esse período.
O terapeuta sexual também pontuou os tratamentos e Estratégias de Controle
- Mudanças no Estilo de Vida: Dieta equilibrada, exercícios físicos regulares e sono adequado ajudam a reduzir os sintomas.
- Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC): A TCC pode ajudar a gerenciar as emoções e melhorar a resiliência contra sintomas emocionais intensos.
- Medicação: Em alguns casos, antidepressivos, ansiolíticos ou anticoncepcionais podem ser recomendados. Consulte um médico para avaliar o melhor tratamento.
- Mindfulness e Meditação: Essas práticas podem ajudar a reduzir o estresse e promover o bem-estar emocional durante o ciclo.
- Acompanhamento Médico: Consultar um ginecologista, psiquiatra ou profissional de saúde mental especializado pode ser fundamental para o diagnóstico e tratamento.
“Os transtornos psíquicos menstruais são reais e podem ter um impacto profundo na vida de quem os vivência. Felizmente, existem tratamentos e recursos disponíveis para ajudar no manejo desses sintomas e melhorar a qualidade de vida”, finaliza.